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Formação Católica

08 janeiro 2016

O CLONE DE HITLER



O CLONE DE HITLER
Victor Peregrino

Há coisa de vinte anos fez relativo sucesso no cinema e na TV um filme denominado “Os Meninos do Brasil”, adaptação de livro homônimo, cujo tema era a presença, no Brasil, do Dr. Joseph Mengele, o monstro de Auschwitz, notório por suas experiências “científicas” com seres humanos vivos.

Naquela peça de ficção, o médico nazista vivia em nosso país com nome suposto, dedicando-se, ainda, ao mesmo gênero de experiências com a reprodução humana, mas agora com o objetivo de criar um clone de Adolf Hitler, a fim de promover a ressurreição do partido nacional-socialista.

Embora o enredo fosse classe “B”, com inverossimilhanças primárias e inexatidões geográficas e históricas típicas de Hollywood, não deixa de ser curioso o seu caráter quase “profético” em alguns pontos.

Com efeito, pouco tempo depois descobriu-se que Mengele vivera de fato no Brasil, sob falsa identidade, escapando às redes das organizações anti-nazistas e do serviço secreto israelense, sob o disfarce pouco criativo de “pacato senhor alemão”, morador de uma chácara na aprazível estância de Atibaia, São Paulo. Aqui viveu, possivelmente sem temor nem remorsos, e morreu por afogamento, vindo sua identidade a ser estabelecida apenas postumamente, por exames médico-legais.

Quanto a experimentos científicos, nada, nem bons, nem maus; mesmo porque nosso país nutre uma notória aversão pela pesquisa e pelas ciências naturais em geral, preferindo os poucos neurônios que aqui medram dedicar-se à área “social”, geralmente pela clonagem de idéias francesas.

O outro ponto em que o filme mostrou-se visionário foi na antecipação do “progresso científico” na área da biologia reprodutiva.

Num laboratório secreto em meio à selva, à la “Doktor Mabuse”, o cientista louco cinematográfico dos “Meninos do Brasil” executava a fertilização in vitro de um óvulo esvaziado do próprio material genético e preenchido com o ADN de Hitler. O citoblasto era depois multiplicado, dando origem a vários embriões, posteriormente implantados em outras tantas voluntárias de “pura raça ariana”. Perdão pela descrição obscena.

No entanto, obscenidades maiores perpetram-se atualmente, em plena luz do dia, em laboratórios moralmente assépticos de ilibadas instituições de pesquisa e acreditadas multinacionais farmacêuticas, sob os aplausos unânimes da mídia, que as alardeia como nada menos que a redenção da humanidade dos males da doença, da velhice e da morte.

Ultimamente voltaram os órgãos de imprensa a exigir a liberação, no Brasil, da pesquisa com células-tronco embrionárias, como já sucede em “todos os países adiantados”, sob pena de cairmos num irremissível atraso tecnológico.

Trocado em miúdos, o que se pretende é a produção de embriões humanos para fins de pesquisa, ou seja, para serem sacrificados, aproveitando-se sua células para, teoricamente, criar órgãos artificiais não passíveis de rejeição. Com isso, diz-se, poderiam ser curadas doenças degenerativas e outras causadas por perda ou lesão de tecidos especializados.

“Mas isso não seria maravilhoso?” – argumenta o cantochão da mídia – “o fim do diabetes, do Mal de Alzheimer, da paralisia e da doença coronariana, e até, quem sabe, da velhice e da morte? Somente os mais reacionários inimigos da humanidade, imersos nas trevas do obscurantismo anti-científico, podem opor-se a tão esplêndido progresso”. Há pouco, até, um articulista do semanário “Veja” defendia a liberação da “pesquisa” com embriões humanos, propondo, ironicamente, para apaziguar os “fundamentalistas religiosos”, que estes ficassem eximidos de beneficiar-se com os avanços da medicina dela resultantes.

Brilhante. Na mesma linha de raciocínio utilitarista e aético, por que não, para acabar com a fome, liberar também a antropofagia? Para calar os “objetores de consciência” viria a advertência, nos rótulos de mortadela e de salsicha, de que as mesmas podem conter “proteínas humanas”, nos moldes do que já sucede com os produtos de soja geneticamente modificada.

Curiosamente, a campanha midiática coincidiu com a tramitação, no Congresso Nacional, da nova lei de biossegurança, que traz, de contrabando, a famigerada liberação da pesquisa com embriões congelados, como se fosse um consenso da comunidade científica a absoluta necessidade desse crime para o avanço da medicina.

Bem ao contrário, sabe-se que a pesquisa com células-tronco – presentes também na medula óssea dos adultos e no sangue do cordão umbilical dos neonatos - pode prosseguir sem o sacrifício de vidas humanas, e que nada está assegurado quanto ao resultado de tais investigações na cura de doenças.

Trata-se, isto sim, de mera hipótese de trabalho, que pode ou não resultar em algum progresso na área médica, fato que é cuidadosamente omitido no estardalhaço propagandístico da imprensa, para o qual a cura de todos os males já constitui favas contadas, dependendo apenas da aprovação da pesquisa com embriões. Aliás, os modestos avanços já alcançados foram-no com células-tronco adultas, extraídas do próprio paciente.

De resto, ainda mais curioso é o açodamento com que se procura liberar pesquisas com seres humanos, quando a ciência não é capaz de ostentar um único caso de clonagem terapêutica bem sucedido em animais, invertendo assim totalmente a ordem de qualquer investigação médica séria, que primeiro testa os novos métodos in anima vile, para somente após comprovada sua efetividade e segurança experimentá-los em pessoas.

Quanto às falaciosas promessas da “ciência”, a mera sugestão de imortalidade neste mundo evoca, de imediato, a promessa da Serpente no Gênesis: “Não, não morrereis, mas sereis como deuses”.

Sob a película dourada do poder sobre a morte e o engodo mendaz da eterna juventude, sempre se pode enganar a humanidade com o velho sonho faustiano.

Outrora era a magia a fazer tais promessas; atualmente, para satisfazer as mentes cépticas do tempo, é mister o disfarce de uma pretensa “ciência” onipotente, que é antes uma gnose materialista, autoproclamada capaz de transformar o homem no demiurgo de si mesmo. E, para realizar o milagre, bastaria pagar um preço irrisório: o sacrifício de algumas células, mero apêndice temporário e descartável do corpo feminino.

Mas na verdade esse preço é exorbitante – é nada menos que um sacrifício humano. Mais ainda, é a apostasia universal de toda espiritualidade, a negação da humanidade do homem e do primado de Deus, tudo resumido na imolação da vida de uma criança sem nome.

Curiosamente, os extremos se tocam. Ciência e magia são antípodas: a primeira, epítome da razão e do conhecimento; a segunda, exemplo de irracionalismo e ignorância. E, no entanto, assim como o sangue dos inocentes é, para a magia, ingrediente indispensável das poções mágicas de perene juventude, a “ciência” – ou antes, a religião materialista que usurpou esse nome - apenas exige, para a cura da velhice, da dor e da morte, uma pequenina dádiva: vidas inocentes.

Sofismam os apologistas do aborto que um embrião não é um ser humano. Mas sequer são necessárias razões teológicas ou metafísicas para desmascarar a falácia desse embuste. Bastam argumentos “ad hominem”, estritamente materialistas. Basta a dialética de Hegel: se o ser é aquilo que ele se torna (Wesen ist was gewesen ist), um embrião humano é inegavelmente um ser humano.

Responda qualquer biólogo às seguintes questões: 1º) Um ovo humano (zigoto) é um ser vivo? 2º) Do ponto de vista genético, esse ser é um indivíduo único e completo? 3º) Taxonomicamente, esse indivíduo pode ser classificado como um exemplar da espécie Homo sapiens? Se as respostas forem positivas, não haverá como negar que um aborto intencional é um homicídio.

Então, o que a “ciência” nos propõe é que, para o progresso da medicina, para curar doenças e salvar vidas, impõe-se o homicídio de alguns indivíduos isolados. O que está de pleno acordo com a ideologia socialista, para o qual o interesse do indivíduo deve ceder ante o da coletividade.

Se a proposta fosse feita tendo como sujeitos indivíduos adultos determinados, colocar-se-ia de imediato a questão ética. Isto é, para curar-se o diabetes do sr. João da Silva, justifica-se o abate, em laboratório, do sr. José Severino, cidadão com rosto, nome, RG, título de eleitor e carteirinha do PT? Parece que qualquer pessoa responderia, indignada, pela negativa, inclusive o sr. João da Silva (é possível que com alguma relutância).

Suponhamos, porém, que a vítima fosse um indivíduo indeterminado, desconhecido, e que ninguém ficasse sabendo da escolha. Uma morte secreta, quem sabe na distante China, e – abracadabra – a cura instantânea do sr. João. Não é difícil identificar o tema de “O Mandarim”, de Eça de Queirós, e quem o leu conhece a escolha que faria, em proveito próprio, o bacharel mediano. Já se se tratasse de um benefício vago e geral, a concordância ainda seria problemática.

Imaginemos agora, avançando ainda mais no mundo das hipóteses, que o bode expiatório da “ciência” pertencesse a alguma “sub-raça“ duvidosamente reconhecível como pertencente à espécie humana, cujo sacrifício por uma nobre causa, se não fosse uma unanimidade, contaria ao menos com a indiferença da maioria. E voilà, aí temos a receita nazista e a justificação do Dr. Mengele.

O embrião é a “sub-raça” ideal. Não tem rosto humano reconhecível, não vota nem tem voz para protestar, não é sequer capaz de viver por si mesmo; nenhuma organização anti-racista ou promotora dos direitos humanos se ergue em seu favor – bem ao contrário. O holocausto silencioso de milhões de vidas humanas todos os anos a poucos comove, e estes não têm poder político relevante, que mereça ser levado em conta.

O que se busca, com toda essa campanha em prol da “ciência”, por vias transversas, é a legalização do aborto, contrária ao sentimento da sociedade brasileira, mas item prioritário da agenda internacional de globalização, que não pode atingir seus fins sem a destruição da família, da moral e da religião.

Tudo se passa como se uma estratégia mundial estivesse em marcha para suprimir, da civilização ocidental, todo resquício de cristianismo, o que se patenteia pelo surgimento simultâneo, em todo o ocidente, como exigência dos “direitos humanos”, dos temas da liberação do aborto, da eutanásia, da pesquisa com embriões e outras abominações, que têm em comum a oposição frontal à moral cristã. No entanto, ironicamente, o sucesso dessa estratégia – se fosse possível - acarretaria o fim dessa mesma civilização, que não pode subsistir sem a raiz espiritual que a gerou.

Mas também o aborto legal é apenas um meio para alcançar o objetivo maior, que é a coisificação do ser humano, a sua transformação em matéria-prima e mercadoria, fungível em riqueza pelo conhecimento e pelo poder. O genoma humano é uma fonte inesgotável de novos produtos químicos e biológicos, patenteáveis pela indústria farmacêutica.

A escravidão foi superada. Não vale mais o homem como “peça” da engrenagem produtiva, só pelo trabalho que pode realizar. Cumpre que ele venha a tornar-se uma mercadoria em si mesmo, comerciável no retalho de suas células e de seu código genético.

O poder é o que está em jogo, na verdade. Derrubado o princípio, chegar-se-á inexoravelmente às últimas conseqüências: diz um ditado holandês que, abrindo-se num dique uma fenda, bastante para vazar uma gota, por ela passará o mar. Ou, na versão caipira: “por onde passa boi, passa boiada”.

Quando a vida humana deixar de ser um Dom Divino para tornar-se mero fenômeno bioquímico, e depois simples mercadoria, a vida e a morte de cada um, quem tem o direito de viver ou o dever de morrer, serão mera questão de conveniência e decisão política. Os donos do poder e do dinheiro serão também senhores da vida e da morte, e os votos dos políticos – no Congresso e nos Tribunais – decidirão quem é gente e quem é coisa. Nesse dia, da fusão de capitalismo e socialismo, nascerá o “admirável mundo novo”, em que o poder estatal e financeiro será tudo, e o indivíduo humano menos que nada.

Nesse dia, a “ciência” – ou aquilo que lhe usurpou o nome - renderá seu tributo ao Dr. Joseph Mengele, um “gênio incompreendido”, um “homem muito à frente do seu tempo”, um “verdadeiro mártir do progresso”.

Defenestrado o anacrônico Hipócrates, merecerá plenamente o Dr. Mengele o título de patrono da “medicina do futuro” – simulacro da verdadeira medicina, porque desprovida de ética - e a clonagem de Hitler ter-se-á tornado inteiramente desnecessária.

Libera nos, Domine.

Autor: Victor Peregrino
Fonte: http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=veritas&subsecao=vida&artigo=clone_de_hitler&lang=bra

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