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Formação Católica

30 dezembro 2015

AS CRUZADAS - PE. W. DEVIVIER



As Cruzadas

Poderíamos deixar de tratar este assunto, pois basta ler-se qualquer história imparcial para se ver como foram justas estas expedições bélicas, em que a sociedade cristã se apresenta com todo o brilho do seu heroísmo religioso; pelo que, com justo titulo se gloria a Igreja de ter sido a iniciadora delas.
Partem, afinal, de um equívoco as invectivas de que as Cruzadas são objeto ou antes um pretexto. O que querem por fim de contas, dizer com semelhantes invectivas? Que a guerra ofensiva contra os sarracenos de além-mar era uma empresa de antemão destinada a acabar mal, ou que os Papas e os príncipes cristãos, que a idearam, foram os responsáveis pelo final malogro dela?


Incriminar as Cruzadas pelo motivo que suscitou a idéia delas, seria dar prova de uma ignorância crassa ou, o que é pior ainda, de uma imperdoável má fé. Supondo mesmo que a Igreja só tivesse em vista libertar os cristãos do domínio muçulmano no Oriente, já por este título ficaria sendo merecedora do mesmo reconhecimento que os Estados modernos, ao lutarem pela abolição da escravatura ou pela repressão dos morticínios nos países bárbaros.

1. E, de feito, poucos domínios pesaram tão duramente sobre os povos conquistados, como o domínio dos muçulmanos; e nenhum outro causou talvez males tão duradouros como ele. Em todas as regiões, que se lhe sujeitaram, ficou a civilização paralisada.

Os povos que o Islamismo assimilou, ou persistiram ou recaíram no estado de barbárie; e o que ele não pôde constranger a abraçarem a lei do alcorão, ficaram oprimidos; mas uns e outros só tiveram em sorte a decadência. Esterilizou-se o solo; secaram-se os caracteres; e, diga-se o que se quiser, ficou paralisado o movimento científico e industrial. Só, em suma, teve jeito para implantar os seus vícios. Hoje mesmo se deixa bem ver a precária e lastimosa situação em que jazem os povos cristãos, sujeitos às autoridades muçulmanas; as iniqüidades, os abusos de autoridade, o menosprezo da justiça, as extorsões e, por vezes, as horrendas selvagerias que contra eles se cometem (os morticínios na Armênia, etc.), nos podem dar alguma idéia da triste situação em que se encontravam os cristãos do oriente nos tempos das Cruzadas1.

2. Mas, note-se mais, não se tinha o poderio muçulmano daqueles tempos contentado somente com os seus antigos domínios; pois que um povo de origem asiática tinha também, pelo seu contato com os muçulmanos, abraçado a religião destes, e vinha de leste a disputar o império aos antigos conquistadores semitas da Síria, da Palestina e do Egito. Por fins do século XI, poucos anos antes da primeira cruzada, esmagavam os turcos seldjukidas o reino cristão da Armênia e tiravam ao império bizantino todo o sul da Anatólia, para não falar das possessões, que tomaram aos seus próprios correligionários. Pouca mudança trazia esta conquista à situação dos cristãos do Oriente; porquanto os novos senhores da Terra Santa assemelhavam-se muito ao seus antecessores. E por isso em lugar de se admirarem que os Papas se mostrassem muito impressionados com um tal estado de coisas, deveriam antes admirar a sua largueza de vistas, que lhes fez antever graves conseqüências, que resultariam deste novo acontecimento. A invasão dos turcos na Ásia ocidental era apenas o começo de uma luta que deveria perdurar durante séculos. Este avanço do Islamismo asiático (turco) não devia parar na fronteira oeste do sultanato de Roum; pelo que, toda a Europa estava de fato ameaçada de um grande perigo. Retardaram, porém, este perigo, conquanto o não pudessem atalhar, os gigantescos esforços, de que o Papado tomou a iniciativa. Quase 400 anos após a primeira investida dos seldjukdas contra o império bizantino, caía Constantinopla, em 1453, sob o jugo dos invasores. Veio este acontecimento destruir toda a obra dos cruzados; mas veio também revelar a muita razão que a previdência política tivera em os levar à luta.

3. Acabamos nós de ver como as Cruzadas vieram, finalmente, a terminar por um desastre completo. Seria uma falta de sinceridade e de tino o fazer valer mais do que elas merecem as vantagens secundarias, que as Cruzadas trouxeram aos países do ocidente. Não obstante elas serem de peso e duração, não podem sem embargo comparar-se com os enormes sacrifícios que custaram. Mas a generosa iniciativa do Papa não há de ser avaliada pelas mesquinhas considerações da utilidade. Consideradas segundo os altos interesses da cristandade, foram as Cruzadas uma empresa, não só mui legítima, senão também sobremaneira atilada e prudente. E saíram, afinal, menos caras à Europa do que as incessantes guerras, as dissensões, rivalidades e desordens de toda a sorte, que houveram sido atalhadas, se às palavras dos sumos Pontífices se tivesse prestado mais atenção.

Contra um direito, pois, tão bem fundado, e tão evidente é leviandade ou cinismo o objetar-se com o malogro das Cruzadas; e, se com elas se tivesse alcançado o fim que se tinha em vista, já houveram sido boas. Em todo o caso as faltas, que ocasionaram seu malogro, não eram inerentes ao plano mesmo da guerra, santa em si, e não são imputáveis ao papado; pois que provieram dos erros, das discórdias, das ambições pessoais, das invejas e rebeldias dos príncipes, que fizeram paralisar o gigantesco esforço da cristandade. Bem se cansou a Igreja em prevenir ou em por remédio a essas faltas. Não há dúvida que um dos maiores, senão o maior dos erros e das mais funestas conseqüências, que os cruzados cometeram, foi o cerco e a tomada de Constantinopla em 1203; mas esta tomada fez-se contra a ordem expressa de Inocêncio III. E, ainda que depois, consumado o fato, os Papas e o próprio Inocêncio III tivessem procurado tirar do mal o bem, não deixa, contudo, de ser verdade que o Papado não tem responsabilidade alguma nesta desastrada conquista que absorveu, em proveito de uma sombra de império, recursos bastantes à consolidação do reino latino de Jerusalém e a o tornar até inexpugnável. Mais inocente, se é possível, foi a Igreja quanto à detestável política de Frederico II, que deslocou para o oriente a luta entre o sacerdócio e o império. Para qualquer homem circunspeto e sincero é coisa certa a viabilidade do plano proposto por Urbano II ou Inocêncio III; torna-se ela bem patente pelas incríveis e enormes faltas, que os príncipes cristãos à toa foram acumulando, até este plano se ver completamente inutilizado.

4. Havemos também de confessar que nem sempre os diplomatas e os promotores eclesiásticos da Cruzada se souberam haver com o tino e a descrição digna de louvor; assim como é também para crer, que nem sempre os pregadores das Cruzadas tivessem presentes os deveres, que os reis e senhores tinham para com seus vassalos. Esta falta notou, por exemplo, Joinville, referindo-se aos conselheiros que moveram o rei S. Luiz a empreender a expedição de Tunis. Mas que importância têm estes erros, relativos a particularidades apenas, ante o conjunto grandioso desta história sumamente gloriosa nos anais da Igreja? Se se contemplar esta história de um ponto culminante, não é possível dar com um motivo plausível que mova certos espíritos a obstinadamente rebaixarem a denegrirem esta epopéia dos povos cristãos.

(Pe. W. Devivier, S.J., Curso de Apologética Cristã. Editora Melhoramentos, São Paulo, 3a. edição, 1925)

1. Ninguém pode negar que existia uma ciência, uma literatura, uma arquitetura, etc. própria do maometismo árabe; e uma coisa parecida se pode dizer acerca da Pérsia e de outros países muçulmanos. É muito natural com efeito que o desenvolvimento das civilizações cristãs ou outras anteriores ao Islamismo se não tenham extinguido de todo após a conquista. E seria além disto uma necedade o negar-se que alguns soberanos inteligentes, como eram bastante os califas de Damasco ou de Bagdad ou os fastuosos príncipes de Andaluzia, tivessem governado com uma prosperidade e esplendor, que ainda hoje estão atestando os monumentos que deles nos restam. Mas uns germens de morte iam já corroendo essa exuberância de vida. Soube o Islamismo lográ-la apenas; não soube, porém, conservá-la por muito tempo, do mesmo modo que a não soubera realizar. Viu-se isto muito bem no Oriente, após a invasão turca. Menos de meio século após a entra dos seldjukidas na Mesopotâmia, na Síria e na Ásia Menor, já a quase totalidade dos imigrantes asiáticos tinha abraçado o alcorão. Mas o mesmo islamismo, que se assimilara os seus vencedores, foi incapaz de reparar as ruínas acumuladas pelas suas invasões. Bem mostrou quanto era incapaz de algo edificar por si mesmo, logo que se encontrou em terreno, onde podia mostrar o que valia. Aí estão a moderna Anatólia, a desgraçada Turquia, e as regiões puramente muçulmanas da Síria, etc., a atestar de um modo palpável, qual teria sido a sorte da Europa, se o Islamismo dela se tivesse assenhorado.

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